Vou relatar um pouco da minha experiência com idosos , enfermeiros e geriatras no intuito de fornecer algumas informações que possam ser uteis para você.
Nenhuma parte deste texto avalia, julga e tampouco critica quem quer que seja, mas aborda de forma real este assunto.
Cuidar ou conviver com alguém de idade não é simples e nem muito fácil.
Há uma série de problemas que envolvem os vários fatores emocionais, o próprio cuidado, a responsabilidade sendo que muitas vezes a pessoa não está satisfeita, e a situação fica pesada porque tudo que se faz nunca está bom.
É só reclamação!
Quem convive com um idoso tem que ter a liberdade de sair, de cuidar de suas coisas, porque o correto e justo é dividir o peso, a responsabilidade e o trabalho.
Em contrapartida, em muitos casos fica nítida a presença de um abuso psicológico, emocional, e até mesmo físico, porque todo abuso emocional leva a complicações da saúde, gerando tristeza, depressão, e muitas outras complicações.
Ou seja os problemas emocionais não resolvidos vão afetar o físico, e também tiram a alegria e a motivação para a vida.
Essa situação gera uma desordem na vida, e a ordem é mantenedora da vida.
Quem convive ou cuida tem que se posicionar para brecar o avanço dos idosos com tendência dominadora, autoritária, considerando que ele é um ser humano com tendências descontroladas, que vão aumentando ao longo do tempo, e como um conta gotas vão afetando gradativamente quem convive e quem cuida.
Por mais dolorido que seja tem que se colocar um freio nas situações onde ocorre o excesso de autoridade.
Quem convive acaba sofrendo uma pressão emocional, e sem ajuda e apoio tem que fazer tudo sozinho(a) e em dobro.
Esta situação tem que ser muito bem esclarecida nos casos em que o irmão/irmã não participa dos cuidados, e que não faz a sua parte.
PRIMEIRA ETAPA
O primeiro passo que deve ser dado é ter uma conversa séria com o idoso(a), onde quem cuida deve colocar sua situação as claras.
Você pode argumentar que já tentou isto e não deu certo. Então mude sua estratégia.
Deixe claro o que vai fazer dizendo para os demais membros da família (por exemplo ):
– Deve ficar claro que a partir de hoje vou buscar a minha essência, a minha vida que estou jogando fora, em nome de um sentimento que não é produtivo, e abusivo.
Tome a iniciativa, se seu irmão ou irmã não está participando efetivamente dos cuidados necessários chame-o para uma conversa séria, exija a participação dele.
Comece a passar parte do que sua mãe/pai necessita para ele, e avise que vai fazer isto.
Deixe claro que se ele(a) não fizer o que for necessário e que couber a ele, você não irá fazer.
E que ele será responsabilizado por isso. (inclusive judicialmente se for necessário).
Vai ter conflito?
Muito provavelmente sim, mas a questão é que sua vida está em jogo.
Quem vai cuidar de você caso adoeça?
Você pode estar se desequilibrando emocionalmente, e talvez não perceba o quanto, devido ao efeito conta gotas.
Então não existe uma relação saudável porque tudo ficou para você, e que seu irmão ou irmã, que são filhos da mesma mãe não estão nem aí!
Ele abriu mão e está se eximindo de toda e qualquer responsabilidade ou seja, ele cuida só da vida dele.
Isso não pode ocorrer porque temos limites, e não podemos adoecer sofrendo esta situação.
Você tem que cuidar da sua mãe/pai até certo ponto, que seja suportável.
O CICLO VICIOSO :
O excesso de autoridade se torna uma opressão nociva e devastadora na vida de quem quer que seja.
Os idosos nesta situação não cedem, nunca estão satisfeitos com o que é feito, e querem cada vez mais, privando a pessoa de tudo.
Nunca estão contentes com nada porque são infelizes, negativos.
Eles se remetem a uma inferioridade que jogam sobre o outro.
Então é necessário colocar um freio, chamar o irmão/irmã e deixar claro que você tem o direito de retomar sua vida que pode estar sendo jogada fora.
Você tem obrigações com sua mãe/pai, mas tudo dentro de limites, porque você também tem uma vida, é um ser em evolução.
Tem sentimentos, vontades, desejos, objetivos, que estão sendo bloqueados em sua essência.
Muitas vezes a mãe dá preferência para o filho, e consequentemente pune a filha por se achar idosa e incapaz.
Então a mãe quer uma prisioneira.
Ás vezes romper esses grilhões é muito difícil, porque isto necessariamente tem que ser feito enquanto você ainda está bem, porque se entrar em depressão profunda vai perder a estrutura para fazer isso.
A partir de dado momento uma pessoa não cuida mais da outra, a filha praticamente morre (mesmo continuando viva).
Isto ocorre muito com pessoas que dão o melhor de si para os idosos, que ficam cada vez mais dominadores com o passar da idade.
Quem cuida geralmente corre o risco de ficar mais doente do que a pessoa com quem convive, chegando ao ponto em que a perda da saúde pode se tornar irreversível.
De acordo com minha experiência em clinicas de idosos, e contato com familiares, se não forem colocados os limites necessários, eles vão exigindo cada vez mais, e sempre criticando, esgotando as energias de quem cuida e convive.
O ser humano é complicado, mistura amor com cobrança, cobrança com amor, e gera muitos conflitos desnecessários.
É uma cobrança contínua em termos de:
-Você me deve isso, porque eu fiz aquilo..
– Você me deu isto, porque eu te dei aquilo…
Devemos ressaltar que muitas vezes isto não é dito, mas está implícito no comportamento.
Sou sua mãe / pai….(haja chantagem emocional o tempo todo)
A maior prova de amor é a liberdade que uma pessoa dá a outra de agir, de pensar.
O contrário é uma violência desmedida no campo emocional.
Você fica sufocado(a), infeliz, doente emocionalmente, psicologicamente, acorrentada por uma tirania excessiva do idoso/idosa que cobra favores, exige ajuda e cuidados muitas vezes desnecessários.
Uma mãe opressora é incapaz de agradecer aquilo que a filha faz, porque lança constantemente na cara da filha que tudo é obrigação dela.
Nesse ciclo vicioso ninguém vive a vida de fato.
O tempo vira um inimigo mortal porque a medida que passa tudo fica pior.
As pessoas não vivem, se suportam, portanto tudo precisa de um limite.
Quando a gente ajuda muito, serve muito, corre o risco de perder a identidade, porque dá espaço para a identidade do outro te diminuir.
É necessário falar mais a palavra não, exigir educação, respeito, estabelecer limites também com suas atitudes, porque só falar não vai ser suficiente mesmo sendo a própria mãe.
SEGUNDA ETAPA
ENVOLVIMENTO DO IRMÃO / IRMÃ
Outro aspecto de fundamental importância é envolver o irmão/ irmã, que fica em uma zona de conforto, vivendo sua vida, e pronto para criticar quem cuida, caso algum imprevisto aconteça.
Tem o caso de um conhecido que mora em Araxá que cuida da mãe com Alzheimer, e seu irmão não aparecia nunca para ajudar.
Depois de várias conversas ele foi a justiça e revelou a situação que estava insustentável.
A juíza fez um documento, convocou o irmão e estabeleceu responsabilidades, divisão de despesas, divisão de tudo.
Isso se faz em último caso, quando as partes não se ajudam de forma nenhuma.
Mas até nisso é necessário pensar, porque isto é uma questão de vida ou morte para quem cuida sozinho.
Pode parecer exagero, mas só quem passa por esta situação sabe o quanto isto é verdadeiro.
Lembre-se de que o tempo corre contra você, cada dia que passa seu stress vai aumentar.
Então seja firme consigo mesmo, tome uma decisão e cuide-se!
TERCEIRA ETAPA
ESTIMULAÇÂO COGNITIVA (GINÁSTICA CEREBRAL)
Muito provavelmente pode ser que seu idoso(a) esteja precisando sair da rotina mental em que está vivendo.
Então é necessário fornecer-lhe atividades que ocupem sua mente.
Estas atividades são conhecidas como Estimulação Cognitiva, ou mais comumente de Ginástica Cerebral, porque vão levar amente do idoso para realizar atividades diferentes daquelas que se habituou ao longo da vida, ou que deixou de fazer gradativamente ao longo dos anos.
Tudo que seja diferente trará benefícios.
Como exemplo, para começar você pode buscar na internet vários desafios como :
– Jogos das diferenças, mais conhecido como jogos dos 7 erros
– Textos de fábulas que você pode pedir para ele ler, e se possível copiar (para melhor memorização).
Depois peça a ele que lhe conte a fábula, e vá interagindo com ele, em um processo de mediação que o coloque a raciocinar.
Motive-o na medida em que ele realiza esta tarefa.
– Peça para que ele conte em voz alta de zero a 100 com intervalos de 5 em 5.
Depois inverta de 100 até zero.
Continue motivando, e vá aumentando o nível de dificuldade.
– Imprima ou compre cadernos com desenhos para colorir
Existem centenas de exercícios e atividades para você aplicar no seu idoso.
Certamente estas 3 etapas melhorarão em muito sua qualidade de vida.
Se os problemas persistirem busque auxilio com um médico neurologista, para que seja feita uma avaliação através de uma Tomografia Computadorizada Multislice Crânio – Encefálica, com o objetivo de verificar o estado geral do cérebro.
RESUMO E CONCLUSÕES
Finalmente eu recomendo fortemente que em primeiro lugar você que cuida, cuide bem de si mesmo.
Adote todos os procedimentos aqui recomendados para melhorar sua qualidade de vida, como para ter um diagnóstico claro sobre quem você convive e está cuidando.
Não espere que com o passar do tempo as coisas venham melhorar, pois a tendência é de piorar.
Portanto faça um plano baseado no que comentamos e comece a agir agora!